Copom corta Taxa Selic com votos divididos
Foto: Getty Images
No curto prazo, é esperado que ocorram mais cortes de 0,25%, levando a Taxa Selic a terminar próxima de 10%
Em sua última reunião, o Copom cortou a Taxa Selic de 10,75% para 10,50%, numa votação dividida, com cinco votos por um corte de 0, 25 % e quatro votos por um corte de 0,5%. A curva de juros reagiu com uma forte alta e também com uma empinada com a ponta longa subindo muito, quase 20 pontos-base. A taxa de câmbio se desvalorizou, com o dólar indo para R$ 5,15.
Parece haver dois Copons dentro desse BC. Tem o novo Copom e o velho Copom. O velho, composto por cinco diretores que vão sair, inclusive o presidente Campos Neto, que fica até dezembro, e o novo Copom, composto por quatro diretores, os que foram indicados pelo novo governo, que provavelmente vão assumir o BC nos próximos meses, certamente no próximo ano.
O que aconteceu na última reunião: o velho Copom foi hawk, e o novo Copom foi dove. O que é hawk e o que é dove? Dove é quem tem uma votação sobre juros mais preocupada com a atividade econômica e com o nível de emprego. Claro que também está preocupado com inflação. E o hawk tem uma votação mais preocupada com a inflação. Claro que também estão preocupados com atividade e com o desemprego. O hawk acaba pesando mais a inflação, e o dove acaba pesando mais a atividade e o emprego.
Para o cenário de curto prazo, o que há no horizonte agora são provavelmente mais alguns cortes de 0,25%, com a Selic terminando próxima de 10%. Três elementos destacados no comunicado e na ata preocupam muito esse Banco Central: número 1, a desancoragem das expectativas, o mercado tem hoje expectativa de inflação de 3,7% para este ano e 3,6% para o ano que vem; número 2, O mercado de trabalho mais aquecido, um hiato de produto mais fechado, ou seja, uma economia mais aquecida que pode pressionar a inflação; número 3, o cenário externo deteriorado, com a taxa de dez anos dos títulos dos EUA mais para o 4,5%, algo que Campos Neto vem falando desde que anulou o forward guidance há algumas semanas. Esses fatores preocupam todos os diretores e parece haver unanimidade sobre o tema.
Apesar disso, a reação do mercado foi muito mais em relação aos votos do novo Copom do que aos do velho Copom, ou seja, o mercado reagiu como se a decisão tivesse sido mais dove e não hawk. Quando o Banco Central é mais hawk, a taxa de juros curta, em geral, sobe, e a longa cai, e a moeda se aprecia. Pois o mercado constrói uma visão de que os juros vão continuar mais altos, a inflação vai ser controlada, e o juro mais alto vai atrair mais capital.
No Brasil, ocorreu o contrário. O juro longo subiu quase 20 pontos-base depois da decisão, e o câmbio se desvalorizou. Ou seja, o mercado está interpretando a decisão como dove, e não como uma decisão hawk, dando mais peso para o voto dos novos diretores, já antecipando o que poderá ser o Banco Central a partir de 2025. Ninguém sabe quem vai ser o presidente do BC no futuro nem a nova diretoria completa. Portanto, essas reações são especulações e conjecturas, mas já dão uma ideia de como o mercado reagirá a um Banco Central mais dove do que o atual.
Ideias-chave
- O Copom reduziu a Taxa Selic de 10,75% para 10,50%, com uma votação dividida entre cinco votos por um corte de 0,25% e quatro votos por um corte de 0,5%
- A curva de juros teve uma alta significativa, especialmente na ponta longa, com uma elevação de quase 20 pontos-base, enquanto o dólar se valorizou, atingindo R$ 5,15
- No curto prazo, é esperado que ocorram mais cortes de 0,25%, levando a Taxa Selic a terminar próxima de 10%
- Três fatores preocupam o Banco Central: a desancoragem das expectativas de inflação, o mercado de trabalho aquecido e o cenário externo deteriorado, com a taxa de juros dos títulos dos EUA em torno de 4,5%
- A reação do mercado foi mais influenciada pelos votos dos novos diretores, interpretando a decisão como mais favorável a juros baixos, o que resultou em um aumento na taxa de juros de longo prazo e uma desvalorização da moeda brasileira
- As reações do mercado são especulativas, mas já dão uma ideia de como o mercado reagirá a um novo Banco Central em 2025
Fonte: O GLOBO