A arte como fonte de inspiração
Foto: César Souza – Presidente do Grupo Empreenda, consultor, palestrante e autor do livro “Passaporte para o Futuro”
A arte é um alimento para a alma. Ela nos liberta de equívocos, desperta as nossas emoções, propicia uma sensação de bem-estar. Oxigena os neurônios, ilumina os pensamentos, aguça a criatividade e a inovação. A arte é uma inesgotável fonte de inspiração para o exercício da
liderança nas diferentes dimensões da vida – profissional, familiar, social, espiritual, empreendedora – e no cotidiano da cidadania.
Encontro nas diversas formas de arte (literatura, cinema, música, teatro, pinturas, esculturas, dança, arquitetura, grafites, cerâmica, fotografia, culinária, moda etc.) uma espécie de faísca inspiradora para
repensar conceitos, questionar práticas e tomar decisões sobre o mundo empresarial e sobre os meus desafios diários.
Uma atividade me encanta de forma diferenciada: visitar ateliês ou casas de artistas. Nos últimos anos, tenho ido muito a esses locais, além de também observar obras de arte em museus; procuro a origem, a raiz, o local onde as obras foram criadas.
Na França, Itália, Espanha, Holanda, Suécia, Rússia, EUA e, obviamente, aqui no Brasil, tenho visitado as residências e os ateliês de artistas como Van Gogh, Cézanne, Renoir, Degas, Picasso, Rembrandt, Dali, Da Vinci, Michelangelo, Matisse, Monet, Delacroix, assim como dos brasileiros Portinari,
Tarsila do Amaral, Volpi e Anita Mafaltti, além de vários outros.
Ah! Quase ia me esquecendo de mencionar a chácara nos arredores de Viena, onde Mozart compôs a ópera Don Giovanni. Confesso que, com os olhos lacrimejantes de emoção, cheguei a “tocar” no
piano daquele grande compositor.
Na Bahia, as visitas “obrigatórias” são a Casa do Rio Vermelho, a casa onde viveram Jorge Amado e Zélia Gattai, na Rua Alagoinhas, nº 33 (Rio Vermelho); o Teatro Vila Velha, palco precursor do Tropicalismo; a casa de Vinicius de Moraes, em Itapuã; o local onde
Carybé trabalhava. São momentos de intenso lazer, entretenimento, bem-estar e, ao mesmo tempo, profundo aprendizado sobre inovação, liderança, tecnologia e cidadania. A arte me faz transcender, propiciando um olhar diferente sobre a realidade.
Um exemplo marcante e recorrente foram as inúmeras visitas que fiz à Accademia di belle arti di Firenze, na Itália, para apreciar o Davi, a famosa escultura de Michelangelo Buonarroti, apresentada ao mundo em 1504. A sua resposta a Leonardo Da Vinci em um suposto diálogo entre ambos, sempre me inspirou. Quando indagado pelo então já famoso mestre como conseguira esculpir com perfeição os 5,17 metros do monumental Davi, com apenas 26 anos de idade, Michelangelo respondeu: “Eu apenas retirei da pedra de mármore tudo o que não era o Davi!”.
Inspirado nessa metáfora que sugere que o jovem escultor não apenas esculpira o mármore, mas, na verdade, teria dado vida e libertado um ser que estava aprisionado na rocha, tenho perguntado com frequência aos inúmeros dirigentes de empresas com as quais trabalho qual o legado que pretendem deixar como fruto das suas trajetórias, em termos de revelação e desenvolvimento de talentos e identificação de potenciais sucessores.
Resolvi visitar Vinci, o pequeno vilarejo onde nasceu o artista, e em seguida fui bisbilhotar a casa natal de Michelangelo, perto de Arezzo. Estava curioso para respirar um pouco dos ares que tinham inspirado os dois grandes artífices do Renascimento.
Finalizo sem resistir a formular a pergunta que não quer calar: Prezado leitor ou estimada leitora, qual
“Davi” que você está esculpindo? Ou qual “Mona Lisa” você está pintando? Em outras palavras, qual
“obra de arte” você deixará como legado para a sua família, empresa ou comunidade onde atua?