Uma artista na Cultura
Foto: Ildazio Tavares Jr.
Ao nomear uma mulher, negra, nordestina e artista para um cargo de tal relevância, o atual presidente
da República dá a prova de que possui uma grande angular como ninguém deste vasto Brasil e suas diferenças; que a cultura, neste fragilizado momento, necessita de uma pessoa entranhada nela; e que a Bahia, nesse sentido, sempre fez a diferença. Mais uma vez, um artista sobe a esse grande palco que foi tão vilipendiado, colocado na mão de incapazes e que de cultura nunca tinham vivido em sua plenitude.
Conheci Margareth pessoalmente em 1994, quando fizemos a segunda temporada da “Ópera Lídia de Oxum” e “O Barão de Santo Amaro”, em ritmo de superprodução para a reinauguração do Parque Metropolitano do Abaeté. Esse evento muito me orgulhou, pois, além do fato de ser uma obra do meu pai que foi executada para mais de 10 mil pessoas, ela era a protagonista, a Lídia, sendo regida pelo grande maestro Julio Medaglia; de lá para cá, fizemos outros eventos e, como comunicador, a entrevistei
muitas vezes em todos os veículos pelos quais passei, o que muito me enaltece.
A nossa baiana, ministra da Cultura, além de uma pessoa iluminada pelos orixás, acumula uma vasta experiência artística, internacional inclusive. Na música, um sucesso que vai de turnê com David Byrne,
dos Talking Heads, a Tribalistas; de Grammy a Dodô e Osmar, e muito mais.
Muitas horas de bailes ao longo desses 40 anos de carreira: é voz fundamental no Carnaval da Bahia, e junto com a sua turma muito fez no sentido de produção cultural baiana de destaque e sempre com uma visão à frente do tempo, a exemplo do Bloco Os Mascarados, o primeiro bloco carnavalesco que repudiava o abadá, assumidamente diverso e que arrastava milhares dentro e fora das cordas. Isso tudo em um momento ainda muito machista e preconceituoso do Carnaval e do Brasil.
Margareth aliou o social, de maneira clara, com a economia criativa cultural do seu Mercado Iaô, além de ser fundadora da ONG Associação Fábrica Cultural, uma organização social sem fins lucrativos que atua com cultura, educação e sustentabilidade na capital baiana. Ela ainda é embaixadora do Folclore
e da Cultura Popular do Brasil pela IOV/UNESCO e foi reconhecida pelo Mipad 100, da ONU, em 2021, como uma das personalidades negras mais influentes do mundo. E, ainda por cima, foi agraciada com a letra de música mais difícil de todo o mundo do axé music: “Faraó, Divindade do Egito”.
O que se espera de uma grande artista quando alçada a um cargo dessa magnitude é que ela leve tão a sério essa nova etapa de vida e a trate até com mais zelo e com a responsabilidade que sempre tratou a sua carreira – e que se percebe, pelo currículo, que o fez muito bem. Ser ministra por merecimento é algo maravilhoso, mas se sustentar no cargo é outra coisa. E alguns fatores nessa arrancada serão fundamentais: o time a ser escolhido, as suas competências, a sinergia e a sincronia serão a “chave do tamanho” para que Margareth repita com o mesmo sucesso, ou maior ainda, o que outro notório artista baiano fez por lá, dando outros rumos democráticos e corretos à cultura brasileira. E detalhe: com o mesmo presidente, em uma nova plataforma diversa de política social em exercício.
À ministra Margareth Menezes da Purificação, essa soteropolitana da Boa Viagem, filha de uma costureira e de um motorista, desejo todo o axé que os orixás possam dar, que realize uma gestão de alto nível em prol da cultura para o povo e que invada este país carente e cheio de tantas tradições com arte, sustentabilidade, educação e inclusão.
Parabéns, Maga! Quero te ver cantando na ONU!
Fonte: Lets go Bahia