O captólio – Verde e Amarelo
Foto: Carlos Sergio Falcão – Engenheiro civil, presidente da Winners Engenharia Financeira e líder do Business Bahia.
Não poderia deixar de iniciar este artigo sem comentar sobre o dia 8 de janeiro de 2023, data que ficará marcada na memória de milhões de brasileiros como um dos mais tristes episódios da nossa história. Milhares de vândalos, extremistas, travestidos de patriotas, romperam as frágeis barreiras de proteção
distribuídas em Brasília, invadiram e depredaram a Câmara dos Deputados, o Palácio do Planalto e o
Supremo Tribunal Federal.
Esses irresponsáveis defendiam um golpe de Estado, uma intervenção militar e, consequentemente, o
retorno da ditadura ao nosso país. Esses acontecimentos, reprovados pela imensa maioria da população brasileira, só foram possíveis porque contaram com a omissão e conivência de lideranças, civis e militares, que, de forma ostensiva ou velada, permitiram que o vandalismo tomasse conta da capital federal, ameaçando a nossa ainda frágil democracia.
Felizmente, diferentemente dos acontecimentos na capital norte-americana, aqui não houve mortes e, de forma contrária do que desejavam os golpistas, esses fatos lamentáveis fortaleceram o nosso Estado Democrático de Direito e uniram a comunidade internacional em torno do governo recém-eleito.
Muitos culpados foram presos e serão julgados, financiadores estão sendo investigados e os prejuízos
serão ressarcidos.
Precisamos entender que, independentemente dos nossos sentimentos pessoais, a alternância de poder e o respeito à vontade legítima do povo brasileiro, expressa nas eleições, são princípios básicos da democracia e que as nossas urnas eletrônicas são seguras, auditáveis e um exemplo para o mundo.
Nesse ponto, me uno e ressalto a posição do general Tomas Paiva, comandante do Exército Brasileiro, que no seu primeiro discurso à tropa defendeu o respeito aos resultados das urnas. Devemos virar essa página e nos concentrarmos no que realmente importa: a Reforma do Estado Brasileiro.
Apesar de ser um otimista, os sucessivos discursos antimercado do presidente eleito preocupam e o ministério por ele escolhido, com algumas exceções, não nos permite prever um futuro com medidas que facilitem a vida dos empreendedores brasileiros. Porém podemos sonhar que, passada a adrenalina
pós-eleitoral, os ventos democráticos cheguem acompanhados de bom senso à Esplanada dos Ministérios e que ideias populistas sejam substituídas pelo pragmatismo econômico.
Há muito tempo, venho afirmando, em artigos e entrevistas, que o Brasil vive uma crise de liderança política e institucional. Independentemente de esquerda ou direita, faltam projetos de longo prazo, estudos consistentes, debates técnicos e pessoas capacitadas nos diversos cargos da República que possam enxergar e estruturar o Estado brasileiro pensando no futuro da nação, e não nos seus próprios interesses, e, pelo andar dessa carruagem, acho que seguiremos assim.
Obviamente, reorganizar as finanças de um país não é tarefa fácil, mas podemos começar cobrando
que o governo eleito avalie com isenção e serenidade, reconheça e mantenha alguns avanços que
foram conquistados em gestões anteriores, como a independência do Banco Central, as reformas da
previdência e trabalhista, a lei das estatais etc., e que foque as ações futuras e não criticar o passado.
Para enfrentar o bilionário deficit fiscal brasileiro, precisamos enxugar a máquina pública e não aumentar
impostos, mesmo que disfarçadamente. A necessária distribuição de renda não deve ser conquistada por meio de mais aumento da carga tributária sobre quem produz, presta serviços ou investe, nem sobre o lucro dos nossos profissionais liberais, mas, sim, com a simplificação do sistema tributário, com uma reforma administrativa, com a redução de mordomias, com um consistente combate à corrupção e aos desvios de recursos públicos, que há décadas sacrificam a nossa economia.